ACM São Paulo

DR INTERNET

Pode ajudar, mas é preciso cautela na hora de buscar informações sobre saúde na web

            A cada ano, com a ampliação do número de pessoas em rede, cresce a quantidade de internautas que acessam os sites de buscas para sanar dúvidas acerca de inúmeras doenças, remédios, médicos e até mesmo exercícios físicos. As justificativas dos “pacientes” conectados para o aceite às prescrições do Dr. Internet vão desde a “demora nos atendimentos da rede pública de saúde à timidez de expor seus sintomas físicos e emocionais a um profissional, num consultório”, declara o psicólogo Renan Dourado.

            Há quem veja com bons olhos a prática da busca por conteúdos sobre saúde e exercícios físicos, em sites, empunhando a bandeira do respeito à autonomia e liberdade do paciente, mas há também os que abominam tal ação, apontando a ausência de formação científica e discernimento por boa parte dos internautas para analisar as fontes de forma crítica, fazendo com que incorram em conclusões equivocadas, criadas após a leitura de conteúdos “pseudocientíficos”.

            Segundo Mario Aranha de Lima, ex-vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo – CREMESP, procurar respostas médicas na internet é mais um detalhe advindo da evolução da informação e da própria tecnologia, e os médicos precisam se “ajustar às demandas tecnológicas do século 21”. Lima defende quem procura os sites de busca, contudo, aponta que os consulentes devem debater o que foi pesquisado com um profissional “real” e construir uma relação de confiança com ele, no consultório. “Pesquisar não é o problema, desde que se discuta com um médico. A relação médico-paciente deve ter o máximo de transparência possível, tanto por parte do profissional quanto do paciente, para que haja liberdade para se discutir as pesquisas realizadas”, adverte.

            “Antes, o paciente recebia as informações do médico, passivamente, sem questioná-lo dos prós e contras de um determinado tratamento. Hoje, o paciente traz até informações das quais o profissional não detém”, declara o ex-vice-presidente do CREMESP, concluindo que, a partir das pesquisas via internet, “o paciente se remete ao médico, com uma capacidade maior de informação pela busca ativa sobre seu próprio problema de saúde”.

            Posição semelhante é a da dra. Wilma Madeira, autora da tese “Transformar é preciso: transformações na relação de poder estabelecida entre médico e paciente (um estudo em comunidades virtuais)”, com a qual levantou as mudanças estabelecidas entre médico e pacientes no momento em que esse último grupo passa a acessar conteúdos pela internet. Wilma é libertária e defende a autonomia dos pacientes em pesquisar na rede, independentemente da classificação dos sites pesquisados. De acordo com ela, “o cidadão tem o direito de tomar quaisquer decisões, sendo elas adequadas ou não”, até em acessar sites cujos conteúdos não possuam um embasamento científico. Isso, segundo ela, constitui a independência de cada um.

            “Qualquer acesso à informação é prática positiva. Mas há riscos. Alguns maiores, outros menores. No entanto, quanto mais acesso a pessoa tiver, mais esclarecida e preparada estará. As pesquisas na internet são sempre bem-vindas, porque são mais um caminho para a construção do conhecimento”, explica.

            A Dra. Wilma pontua que há de se “respeitar a decisão do indivíduo” em pesquisar na internet, mas ela não descarta a orientação de um profissional, salientando, inclusive, que é necessária a construção de vínculos de confiança com o médico para a discussão do conteúdo pesquisado. Segundo ela, em pesquisas realizadas em 2006, quase 100% dos respondentes disseram que as informações pesquisadas são usadas para subsidiá-los numa interação com um profissional. Ou seja, não há nenhum interesse dessas pessoas abrirem mão da consulta com um profissional. “Elas querem, sim, se preparar e ficar munidas de informações”, comenta Wilma, exemplificando a sua informação: ”O médico dizia ao paciente: você é hipertenso. Ele entrava e saía, em silêncio, do consultório, após o diagnóstico. Mas agora, ele realiza uma pesquisa prévia, consegue ver todos os riscos e questiona o profissional acerca de seu problema”.

            Não é apenas sobre doenças que os internautas têm recorrido à internet. Alguns pesquisam acerca de treinos para serem realizados em casa. Porém, cuidado: um dos princípios básicos do treinamento esportivo é a “individualidade biológica”. Isto significa que, cada corpo tem particularidades e responde de maneira diferente a estímulos. O exercício que deixou seu vizinho fortão não reproduzirá o mesmo efeito em você. Alertam os profissionais de Educação Física.

            É necessário saber que tipo de informação a pessoa está procurando na internet. Se for apenas para conhecimento geral, saber sobre um determinado tipo de doença, não há problemas. Contudo, se o que se está procurando é um treino pronto, para se seguir à risca, o correto e recomendável é consultar um profissional de Educação Física. Essa combinação de fatores, e possibilidade, nenhuma ferramenta da internet pode substituir.

            É preciso bom senso, atenção e foco para as consultas com o Dr. Internet, além de confiança e diálogo com os profissionais da saúde, para que haja um debate sadio de conteúdos e saberes a respeito do que se encontra pela internet. Pesquisar na Internet é uma maneira fácil, ágil e barata. E, quanto mais autonomia possuir aquele que pesquisa, mais visão crítica haverá diante daquilo que se acessa, porque essa visão não se adquire em banco de escola, é no dia a dia.

AO ACESSAR UM SITE COM INFORMAÇÕES SOBRE SAÚDE, É BOM ESTAR ATENTO:

            ::          Tente descobrir quem está financiando o site direta e indiretamente; quem o escreve; se há verbas públicas e/ou privadas investidas nele; dependendo das fontes de financiamento, poderá haver interesses comerciais por trás das informações publicadas, induzindo-o a adquirir determinados remédios, tratamentos médicos e/ou quaisquer produtos para a saúde;

            :: Sites de laboratórios médicos, por exemplo, devem ser avaliados com cuidado, porque podem induzir à compra de medicamentos;

            :: Procure sempre textos com autores identificados como médicos ou pesquisadores.

Sites confiáveis indicados por especialistas:

:: Ministério da Saúde (www.saude.gov.br);

:: Fiocruz (www.fiocruz.br) ;

:: Hospital das Clínicas (www.hcnet.usp.br);

:: Inca (www.inca.br);

:: Biblioteca Virtual em Saúde (https://bvsms.saude.gov.br/);

:: Sociedade Brasileira de Cardiologia (https://www.portal.cardiol.br/);

:: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia(https://www.endocrino.org.br/);            

:: Sociedade Brasileira de Diabetes (https://diabetes.org.br/);

:: Sociedade Brasileira de Cancerologia (http://www.sbcancer.org.br/);

:: Conselho Federal de Medicina (https://portal.cfm.org.br/);        

:: Universidades e todas as páginas oficiais de sociedades médicas nacionais e internacionais.